terça-feira, 10 de julho de 2012

Etapa 7 da Ecovia Lisboa-Badajoz 2012.07.07

O dia começa com uma sensação estranha. Um misto de alegria e alguma nostalgia: Se por um lado estamos perto do nosso objectivo, por outro estamos perto do final e das despedidas. Hoje viajamos de Elvas a Badajoz. Prometida está a bela visão do rio Guadiana, que mais à frente poderão ver. 

O grupo nunca foi tão grande. Para além dos que fizemos toda a viajem, juntam-se ainda alguns valentes que fizeram a primeira etapa, e por ter tido trabalho durante a semana só se podem voltar a reunir connosco nesta última. Há ainda alguns elvenses (que pedalada têm, por Deus) e ainda o Gonçalo e o seu filho Gustavo, o nosso pequeno herói, com 7 anos e quase 400 quilómetros nessas perninhas (olhando para ele é quase uma vergonha os queixumes das dores) 

O Gonçalo fez uma série de bricolagens na sua bicicleta, para arrumar a tralha e ainda com possibilidade de levar o Júnior e a sua pequena bicicleta caso se sinta cansado. O Gonçalo ainda nos contou que tem forma de inserir uma máquina de sumos de fruta accionada pela força dos pedais. Uma ideia a reter, pois até passar a ferro pensamos que pode ser possível, caso se monte o marido na dita cuja para pedalar, para a esposa dar conta da roupa (ou vice-versa, que estamos em época de igualdade)

Olhem para isto! Que extenso grupo de ciclistas a caminho de Badajoz. Mal sabem os espanhóis que caso todos queiramos comprar caramelos nada há de ficar nas prateleiras. 
O dia está bonito, sente-se o calor logo pela manhã, e algum ventinho nos refresca. 

Não seria digna esta etapa sem os habituais caminhos de terra. Pedalar pela fresca é uma alegria, e há no grupo uma sensação de êxtase por nos estarmos a aproximar da meta desta viagem mítica. 

Lá está, o Gustavo, cheio de "pica" . As conversas recorrentes são sobre como diabos terá ele conseguido ultrapassar aquelas subidas todas que nós fizemos nas etapas anteriores. 

O nosso amigo de vermelho chama-se Luis Hernández e é de Badajoz. Ouviu falar da nossa travessia através do facebook, e decidiu vir ter connosco a Elvas para nos servir de guia e anfitrião na sua terra. O Luis puxou pelo nosso melhor portunhol para lhe "ixpliquiar quantio nos tiviemos a diviertire nestia viagiem por lo Portugalio". 

Como esta última etapa é bastante mais pequena que as anteriores (menos de metade) demo-nos ao luxo de sair um bocado mais tarde (permitindo um acordar às 9 da manhã, toda uma pechincha tendo em conta os dias em que nos levantámos da cama às 6). Por esta altura já eram 11 e tal, e a procura de água nos cantis indiciava o começo do calor a sério. 

O mais incrível neste passeio Portugal fora foi ter juntado um grupo de pessoas que de nada se conheciam, e ter resultado tão bem. A constante foi a entre-ajuda, as alcunhas, e as piadas de transcurso. Aqui à frente a Joana e o Tiago em amena cavaqueira (que isto não foi só esforço) 

E se houve um preferido para as objectivas durante todo o dia, foi o Gustavo. Onde estará ele de aqui a uns anitos? Esperamos que nalguma ecovia recordando a sua primeira viagem com a sua própria bicicleta. Gustavo, és o nosso herói ciclista! 

O que parece um jardim de Badajoz é ainda território português. Depois dos cenários verdes, das casinhas brancas alentejanas, foi um choque o cinzento citadino da cidade espanhola. Mas ainda é mais assustador vermos em massa um objecto estranho, de 4 rodas, com pessoas fechadas lá dentro: Diz que se chama carro e que anda a gasolina. Estes homens estão loucos.

O momento mais próximo de uma auto-estrada. A fronteira Portugal/Espanha junto ao rio Caia (ou Caya, se preferirem) . Que emoção, chegámos sãos, salvos e juntos até ao final da última etapa. 

À última da hora somos convidados à Lusiberia por um português residente em Badajoz. E o que é a Lusiberia? Perguntam vocês, e muito bem. É um gigantesco parque aquático, inaugurado há alguns anos, que é usado para refrescar o pessoal do interior do país. A ideia era uma visita guiada, mas os que têm fato de banho à mão tiveram direito a 20 minutos de banhoca. 
Diz que aproveitou a oportunidade do mergulho uma das ciclistas, dois dos rapazes e claro, o Gustavo.

O resto do grupo faz uma tour pela Lusiberia. O mais incrível deste parque é que consegue de forma criativa unir  a história da civilização ocidental com uma série de piscinas de diversão. Aparentemente é complicado, mas o efeito é conseguido espalhando monumentos antigos pelo meio da área. A acrópole grega serve de entrada e a  Torre de Belém pode avistar-se no meio do passeio (ainda a vão ver, mais para a frente) 

Algo melhor do que recriar uma praia numa zona que fica a mais de 300 quilómetros da costa? Esta é a piscina mais famosa do Lusiberia, há gente a correr logo pela manhã para sentir as ondas deste mar fictício. É genial!

Queriam escorregas? Cá estão. O parque é uma maravilha, só faltava mesmo um escorrega que nos atirasse a uma piscina de caramelos, estamos ou não estamos em Badajoz? Aqui fica a ideia, senhores da Lusiberia. 

Não dissemos que existia uma Torre de Belém? Só precisamos dos pastéis, mas parece que aqui só nos dão calamares. 

Terminada a passeata por piscinas e escorregas, voltamos ao caminho. Esta foi uma das mais belas ofertas da etapa: A passagem pela ponte sobre o rio Guadiana, o mesmo que outrora limitou a divisão entre Portugal e Espanha. 

Antes de nos fazermos ao caminho uma importante recomendação: Uma lei posta em vigor a 1 de Julho multa quem pedalar por cima do passeio com uma coima de 80 €. Parece que por lá as bicicletas são tantas que os peões começaram a queixar-se por ter de dividir o espaço com os ciclistas. Nós achamos que a melhor solução não é a multa nem atirar as bicicletas para o meio da estrada, mas sim alargar as ciclovias um bocadinho mais ou criar novas, na berma da estrada.

Enaa, na cidade existe uma coisa chamada semáforos !! Isto na terra das ecovias e das bicicletas não existe. E até mudam de cores. 

Estamos a um passinho de chegar ao centro histórico da cidade. Para "recuerdo" uma subida digna de nome. 

Aqui sim podemos dizer que concluímos a nossa viagem Lisboa/Badajoz: A Plaza Alta, onde os nossos companheiros de viagem, vindos das Aldeias S.O.S tiveram que se despedir para se fazerem ao caminho de regresso. Nesta praça há uma espécie de mercado semanal de artesanato. 

Este foi o núcleo duro, o que percorreu durante 7 manhãs os 340 quilómetros. Digam lá se a bicicleta não faz um bem incrível. Olhem para nós, todos bonitos e cheios de alegria!

Que é habitual muita maluqueira em despedidas de solteira, isso já sabíamos, mas logo pela manhã? Este grupo de espanholas decidiram colocar umas alcunhas nas suas t-shirts que até envergonharia o próprio Sá Leão, e não os iremos transcrever para respeitar as possíveis tenras idades de alguns leitores do blog . Aqui a noivinha vendia beijos a 0,50€. Descansem as namoradas do nosso grupo de rapazes: A noiva não ganhou nem um cêntimo connosco. 

A carta do restaurante onde parámos tinha: tapas, calamares, tapas, bocadillos, tapas e ainda tapas. 

Espectacular é quando fazemos um esforço sobre-humano para falar espanhol, e o empregado, após 5 minutos de puro prazer, nos diz que é português.

E assim de repente, que nem os nightriders do Mad Max, aparecem os cicloturistas da C.M. do Seixal, senhores para fazer a mesma viagem que nós, só que em apenas 4 dias. 

Olhem para eles, todos catitas, depois dos 340 quilómetros em quase metade do tempo. Valentes! 

Uma das cenas mais marcantes de toda esta aventura: todas as bicicletas estacionadas ao lado umas das outras. É uma imagem quase poética. 

Por esta altura já havia quem se tivesse escapado para procurar os afamados caramelos. Pouca sorte, a  maior parte das lojas estavam fechadas para a siesta da tarde. 

Olha o Gustavo, todo ele energia. É essa capacidade incrível das crianças de fazerem amigos em qualquer lugar. Depois de ter arranjado uns colegas espanhóis para brincar à apanhada, ainda arranjou relacionamento com um cão hispano. 

É por esta altura que uma lágrima já andava à espreita pois já íamos de regresso a Elvas para apanhar o autocarro de regresso a Lisboa. E é por esta altura também que se começa a falar das nossas futuras viagens em bicicleta . 

Isto fica muito perto da fronteira, ainda em Badajoz

Carregar as bicicletas não foi fácil,  umas foram numa carrinha, outras na bagageira do autocarro. Lá dentro percebemos que este veículo era uma espécie de discoteca com rodas: A música alta em todo o trajecto viajou  do universo romântico de Pablo Alborán ao mundo de Rosinha (autora da fineza "Eu levo no Pacote"). Por esta animação festiva e especialmente por nos ter cedido o autocarro para regressar a Lisboa um muito obrigado à Câmara do Seixal. 
As despedidas prometeram novas aventuras a duas rodas, esperando ter mais acompanhantes em próximos passeios. 

Queremos mais viagens destas. Snif! Snif! 

Agradecemos a todos os que se cruzaram connosco neste passeio.
À Câmara Municipal do Seixal e à ASSTAS pela cedência do autocarro de regresso. Ao Francisco Morais e a todo o seu grupo de cicloviajantes pela companhia.
À Lusibéria pelo convite para uma visita guiada a este maravilhoso parque aquático.
Ao Gonçalo e ao Gustavo, de 7 anos, pelo exemplo de vida inspirador que nos dão
Agradecemos à Movefree e à Samsung pelo apoio às Ecovias de Portugal.
Aos miúdos das Aldeias-SOS, que enriqueceram este passeio com a sua presença, espírito de sacrifício, humildade e respeito. Parabéns Mário rui pelo excelente trabalho desenvolvido com estes futuros homens e mulheres de Portugal.







3 comentários:

  1. Segui a vossa viagem/aventura com muito entusiasmo e confesso um pontinha de "inveja"! Espero um dia fazer a mesma viagem e aproveitar tanto quanto voces:) Parabéns a todos e obrigado por partilharem as aventuras com os ciclistas como eu, que divivem o dia entre a casa e o trabalho e viajam nas vossas fotos e comentários!
    Obrigado
    Antonieta

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  2. Parabéns a todos, e a minha admiração especial para os menos experientes que nunca antes tinham pedalado mais do que 50 Km mas que superaram as dificuldades e chegaram ao fim da viagem!

    Desejo que esta primeira ecovia continue a ser percorrida por outros grupos de cicloturistas, e reforço que fico ansiosamente à espera de uma outra aventura deste género para me juntar ao "pelotão". :)

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  3. Apesar de apenas ter feito 50 dos 340 km deu para sentir a boa energia e cumplicidade do grupo.

    De salientar, que a engraçada cidade de Badajoz tem multas é verdade, mas também tem ciclovias! E as coisas boas são sempre de louvar!

    Continuação de boas pedaladas.

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